Tempo e Percepção

Ontem estávamos conversando sobre a mudança da nossa percepção sobre o tempo. Quando criança, tínhamos a impressão que um ano durava uma eternidade para passar. Já me justificaram que esta impressão está relacionada com a diferença das responsabilidades que tínhamos com as que temos quando adultos, fora as transformações econômicas e tecnológicas que modificaram a rotina de todos que têm uma vida urbana nestes últimos trinta anos.

Existe um palpite de que essa modificação perceptiva também seja física, mas que a ciência ainda não desdobrou este mistério. Em alguns momentos, eu penso se tratar da mesma diferença perceptiva espacial que acontecia quando éramos pequeninos e víamos o pátio da escola tão extenso quanto a um campo de futebol profissional. Talvez nessa comparação ingênua possa estar mesmo presente uma das variáveis da complexa equação.

Eu concordo um pouco com todas as opiniões a respeito e arrisco um componente à parte que interage não somente cognitivamente, mas fisicamente na equação perceptiva: a emoção.

Aliás, a emoção tem sido a pedrinha giratória dentro do meu tênis apertado. Ela ora cai pro dedão, onde consigo isolá-la num canto e caminhar com incômodo, mas caminhar. Porém quando ela encaixa no tornozelo o calcanhar ressente. Daí é feita a bolha que me prende em um imenso desenrolar de pensamentos.

Com pesquisas, leituras e após muitos documentários científicos, esse novelo vira uma meia que abriga, ainda que temporariamente, a pedrinha, impedindo ela de rolar travessa e fazer cócegas ou causar incômodo maior. Quando a conversa chega no chat ou na mesa com amigos a pedra vira um pico a ser vencido e passa a incomodar silenciosamente e, de forma imponente e ameaçadora, a mente daqueles que se entregam ao mistério.

No final do bate papo que durou horas, embora tenha parecido minutos, brindamos nossa angústia disfarçada com um até amanhã, uma pergunta sobre um placar de futebol ou a próxima estréia do cinema. O intervalo entre o colchão e o café da manhã é ínfimo e a distância da casa ao trabalho é o dia inteiro. Para viajar no tempo hoje não precisamos de sonhar com uma DeLorean acelerando, basta dois cliques de mouse e um microprocessador multicore e lá estará presente, o seu passado. Parece que foi ontem.

(30/12/2014)

Imagem: Katie Grinnan

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