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“Sites miram o futuro da música” – matéria Valor Econômico

Por Renata D’elia

 

O cenário é nebuloso, mas o futuro da música aponta para o céu. Num ano que começou com cerco fechado à pirataria on-line, aumentando os debates sobre propriedade intelectual e compartilhamento, as plataformas de streaming _em que as músicas podem ser ouvidas sem obrigação de transferi-las para o computador_ se fortalecem e estão mudando os conceitos de criação e a maneira de se consumir e difundir música.

Artistas “mainstream” e independentes, além do público e da indústria, se beneficiam das novas práticas. Colaboração e recriação são palavras-chave nesse cenário, afirma Dave Haynes, vice-presidente de negócios do SoundCloud, que superou o MySpace e tornou-se a maior plataforma on-line de áudio, com 11 milhões de usuários. As possibilidades vão além de serviços como Rdio, iCloud e Spotify, em que o usuário paga um preço fixo para acessar sua biblioteca musical direto da nuvem _conceito em que os dados ficam armazenados em servidores, permitindo que as pessoas acessem essas informações a partir do aparelho que quiserem, sem necessidade de downloads.

“A música do futuro vai se parecer com aquela produzida no passado, antes do surgimento da indústria fonográfica”, diz Haynes. “Era uma experiência social que acontecia nos teatros, salões e reuniões. A música mudava naturalmente a cada execução e recriações eram comuns. Não era um produto fechado, como os vinis, CDs e MP3s. Os atuais remixes e criações colaborativas digitais retomam esse sentido.”

O trunfo do SoundCloud é funcionar não apenas como meio de divulgação e interação entre artistas e público, mas também como um banco de sons para criação coletiva. O serviço permite que, além de ouvir, um usuário carregue até 120 minutos mensais de música gratuitamente para a nuvem. É possível postar criações próprias e recriações em cima de outras faixas sonoras – com ou sem licença. A banda de Brasília Móveis Coloniais de Acaju: “Para independentes, streaming gratuito é ótimo negócio. Conseguimos fidelizar nosso público”

A proposta já tem resultados artísticos. A cantora britânica Imogen Heap convocou fãs para compartilharem sons como batidas de porta, água corrente, vozes e ruídos de ruas movimentadas. Imogen escolheu seus preferidos e compôs a primeira faixa de seu próximo álbum, compartilhando o resultado na mesma plataforma. Ao final da pesquisa, o CD físico “Heapsongs” deve conter as faixas que a cantora está postando gratuitamente na nuvem e vendendo pelos canais tradicionais de Mp3 conforme são produzidas. “Para bandas independentes, streaming gratuito é um ótimo negócio. Conseguimos divulgar nosso trabalho, fidelizar nosso público e ainda fazer colaborações e experimentos”, diz Fabrício Ofuji, da banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju. Para ele, a pirataria dos fãs é revertida em divulgação e sustento financeiro. “Conseguimos atrair públicos maiores para nossos shows.”

Na década passada, artistas conhecidos internacionalmente, como David Bowie, Garbage e Björk, já haviam disponibilizado samples de suas faixas na internet. Mas a maioria dos grandes nomes usa a nuvem apenas para divulgação. Paul McCartney escolheu o SoundCloud para oferecer o primeiro single de seu novo disco, “Kisses on the Bottom”. Madonna, que lança o álbum “MDNA” em março, divulgou o single “Give Me All Your Lovin” e postou uma vinheta cantando parabéns em aniversário.

No Brasil, há exemplos similares entre os artistas mais populares. Presente em todos os canais oficiais de vendas on-line, o NX Zero alimenta sua nuvem com sobras de estúdio, passagens de som e brincadeiras. “Isso gera um laço, uma comunicação com o fã, que vai até mesmo gerar interesse para uma futura compra de um item físico ou virtual”, afirma Thaiana Hamilton, gerente de contas digitais da Universal Music, gravadora da banda paulistana.

Como acontece nas redes sociais e em mecanismos de buscas, essas novas plataformas interessam à indústria uma vez que fornecem perfis de gostos e hábitos de usuários. “Serviços de streaming que permitem a criação de playlists individuais e se tornam um banco de dados precioso para as gravadoras. É um termômetro do que o público quer. Isso reproduz o mecanismo existente desde o surgimento dos DJs, nas rádios independentes americanas. Foram elas que popularizaram figuras como Elvis Presley, posteriormente massificadas pela indústria”, diz Patricia Rocha Junqueira, mestre em comunicação pela PUC-Minas e pesquisadora de música digital. “Essas plataformas também servem como um tubo de ensaio criativo onde artistas com menos recursos apresentam ideias, tendências e fórmulas que serão apropriadas, em menor ou maior grau, pelas majors [grandes gravadoras] no futuro.”

Mas nem tudo é festa nesse cenário. O Grooveshark, concorrente do SoundCloud, foi bloqueado na Alemanha por ter ferido direitos autorais – em outros países, será pago. Segundo Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas e do Creative Commons no Brasil, os modelos de streaming e os cyberlockers [serviços de armazenamento de arquivos] estão na mira dos detentores de direitos autorais. “A ação judicial que [em janeiro] retirou o Megaupload do ar vai testar os limites da responsabilidade dos sites sobre o conteúdo postado por terceiros”, afirma Lemos. Ele cita o processo movido pelo conglomerado de mídia Viacom contra o YouTube, que alegou não ser responsável pelo conteúdo postado pelos usuários, e venceu. “A questão agora é se a isenção aplicada ao YouTube vai estender-se aos cyberlockers e streamings. Dependendo do resultado, eles podem ser fortemente afetados”.

Fonte: Jornal Valor Ecônomico

Link: https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2012/02/28/sites-miram-o-futuro-da-musica.ghtml

Crítica musical e recomendação no tempo das redes

Crítica musical e recomendação no tempo das redes

Por Patrícia Rocha

A crítica musical, para muitos, sempre foi um importante referencial para a escolha de um álbum ou artista em uma primeira apreciação. Jornalistas, profissionais da música e escritores marcaram época com suas análises e ponderações sobre obras ou performances de palco. No século XX, em especial, quando as artes ganharam visibilidade midiática e os músicos status de popstar, revistas e colunas especializadas se multiplicaram e a crítica tornou-se protagonista de uma relação de instável cumplicidade entre críticos, artistas e  público.

O tempo passou e a tecnologia ajudou a transformar as formas de fazer música e também as formas de comunicação e interação social.  Quando as redes digitais emergiram materializadas pela Internet e outros aparatos tecnológicos, as pessoas passaram a ter mais autonomia na busca de informação e na produção de conteúdo. As revistas especializadas passaram a conviver com os blogs e redes sociais. Muitos se arriscaram a dizer que o poder da crítica foi diluído. Porém, mais do que nunca, talvez o crítico tenha agora a responsabilidade de um papel mediativo ainda mais significativo e não menos árduo: nortear uma multidão em rede em meio a milhares de opções de escuta, novos estilos, gêneros, sonoridades e especialmente, as novas formas de recomendação musical. Para isso é preciso entender as transformações práticas ocorridas nestes últimos vinte anos.

Antes da década de 90, o acesso a lançamentos musicais era bastante controlado pelas gravadoras. Os críticos dos veículos das grandes mídias costumavam receber estes lançamentos antecipadamente com exclusividade, pois eram os responsáveis pela análise e crítica das obras. Depois da popularização tecnologia P2P (peer to peer) e da troca de arquivos .mp3 na internet, não há mais essa exclusividade. Graças a esta facilidade de acesso, os blogs, associados às redes sociais de música como o MySpace e Last.fm,, foram os protagonistas da transformação do sistema de recomendação musical antes vigente.

Se o MySpace foi o primeiro serviço a mobilizar a rede em torno da música, a hospedar músicos e ouvintes e a articular a interação entre os mesmos, o Last.fmpropôs um formato inovador, no qual os hábitos de escuta são registrados em tabelas estatísticas e comparados entre usuários “amigos”, gerando uma escala de compatibilidade de “gostos”. Outra novidade que o Last.fm apresentou é o sistema de “tagueamento”. As “tags” são como âncoras marcadoras que fazem um papel de filtragem semântica e permitem uma série de possíveis associações de dados através de algorítimos que virão a combinar ou relacionar informações em uma página, tabela ou índice. As “tags” aparecem como “impressões” particulares que utilizam tanto gêneros e estilos musicais quanto outras associações qualitativas como cor, estado de humor para caracterizar aquela faixa, álbum ou grupo musical. O usuário ganhou assim liberdade de articular suas impressões, classificá-las e recomendá-las como bem entender.

As novas práticas aprendidas através do uso desses serviços e suas interfaces propõem uma experiência diferente de escuta musical ao estimular a afinidade em rede como um fator motivacional para uma pesquisa de escuta compartilhada. Dessa forma, os “playlists” que registram as audições ou seleções musicais dos usuários passaram a ser um índice de consulta tão poderoso que vários serviços surgiram baseados nesse modelo, entre eles podemos citar o blip.fm e o lala.com. Este último, inclusive, foi comprado e fechado pela Apple para que seu modelo sirva de base para a nova interface em do iTunes. Com os seus playlistspersonalizados, os usuários querem mostrar o que ouvem e querem ser influentes com suas recomendações. Muitos conquistam popularidade e prestígio em seus perfis, agregando muitos “amigos” ou “seguidores”. Essa popularidade pode ser lucrativa para alguns serviços, o lala.com, por exemplo, vendia os playlists mais populares. O usuário-ouvinte tornou-se mais do que um “recomendador”, mas um garoto propaganda do produto “música” na rede. Irresistível pensar na pergunta: seria esse um novo modelo de “Jabá”?

Embora esses formatos interativos sejam fontes ricas para muitas questões ainda em aberto, a prática de recomendação entre os usuários não impede que a crítica ocupe seu espaço de valor. A prova disso é a grande popularidade do Pitchfork.com, site de resenhas musicais e entrevistas focado principalmente no mercado de música independente. Fundado em 1995, nos primórdios da internet, o site acompanhou a evolução das tecnologias de web e sua atual configuração só comprova a força do playlist: os usuários têm acesso a uma lista que indica quais são os “melhores” álbuns e lançamentos do momento. Outras listas incluem os melhores discos de cada década eleitos pelo site, organizadas talvez com um objetivo mais formativo. As resenhas são feitas por colaboradores, geralmente músicos, blogueiros ou jornalistas convidados pelo staff. O conteúdo é interessante, oferece espaço para grupos e trabalhos outrora obscuros e trazem muita música experimental, eletrônica, folk e outros novos “estilos” alocados em alguma hibridação entre rock, hip hop, jazz ou subgêneros da eletrônica.

Enfim, o que podemos concluir é que o usuário das redes tem à sua disposição muitas ferramentas de pesquisa e consulta e toda uma nova cultura de escuta erecomendação pela qual pode abrir seu leque de conhecimento e gosto musical. Os blogse redes sociais alimentam esse fluxo cultural e também a curiosidade daqueles mais interessados nesse tipo de conteúdo. Toda essa abertura e acesso podem ser usados de forma positiva pelos críticos e formadores de opinião, pois as redes são paramentadas de ferramentas eficientes que ativam o trânsito da informação e as distribuem em instâncias consolidadas de mediação. Se existe muito conteúdo duvidoso na rede, a crítica aparece como fonte de boa informação musical nas quais seus autores adicionam sua experiência e conhecimentos técnicos e intelectuais que podem vir a fazer toda a diferença nas escolhas e experiências de escuta dos usuários de rede. O espaço está aberto!

 

 

O preço da visibilidade – Mesa de debates Oi Futuro

No último dia 15 de abril de 2010, foi realizado no espaço Oi Futuro de Belo Horizonte uma mesa de debates cujo tema foi o preço da visibilidade midiática dos músicos na rede. O encontro, organizado pelos sócios-proprietários do selo e produtora de áudio Serrassônica, Ronaldo Gino e André Melo, teve como convidados o músico Makely Ka, representando a COMUM (Cooperativa de Música de Minas Gerais) e o DJ e proprietário do selo digital Conteúdo Records, Tadeus Mucelli (DJ Tee). Como pesquisadora da temática e a convite do Selo Serrassônica, também integrei a mesa de bate-papo.

Passando por pontos polêmicos como “direitos autorais versus download gratuito” e “os mitos e as verdades por trás do cunho libertário atribuído aos recursos de internet”, a discussão proposta deixou à mostra inquietações comuns ao grupo reunido naquela noite: quais os benefícios e desafios que esse período tem trazido para os artistas independentes? Quais as implicações das novas propostas de modelos de negócios sugeridas ao mercado? Qual seria o custo da visibilidade do artista e de suas obras nas galáxias da “cauda longa”? O “popstar” seria um sonho datado ou o brilho de muitas constelações passaram a protagonizar a cena?

A internet e os recursos de web 2.0, juntamente com o barateamento da tecnologia de produção musical, são uns dos principais fatores responsáveis pela remodulação ainda em curso do mercado de música massiva e independente. Asmajorsda indústria fonográfica ainda insistem que a troca de arquivos .mp3 seja a grande responsável pela queda de seus lucros. No entanto, sobreviverão às dificuldades econômicas dessa fase de transição aqueles que souberem se adaptar às necessidades do público produtor e consumidor de música, agentes de novas práticas sócio-comunicacionais continuamente geradas e legitimadas pelas redes.

Desde 2006, quando a rede social de música MySpaceconquistou inúmeros adeptos, uma sucessão de serviços focados neste nicho foram inaugurados. Entre eles podemos citar o Lastfm, Ilike, Blipfm, Lalae outros. Experimentando formatos com o objetivo de vencer a disputa pela preferência dos usuários, estes serviços, imbuídos do discurso de facilitação dos processos interativos e de táticas de “rankeamento” (seja por número de seguidores, amigos, interações ou por número de audições, downloads, etc), acabaram por agenciar novas práticas de escuta musical e recomendação.

Desde então, o hábito musical dos usuários passou a ser mais visível na rede. O Lastfmapresenta tabelas com as faixas e bandas mais ouvidas nos perfis dos ouvintes, enquanto no Myspace,os artistas prediletos aparecem relacionados entre os “favoritos”. No Blipfme Lalaos usuários criam os seus próprios playlists. Essas informações permitem aos serviços fazerem um estudo de segmentação de mercado ainda mais preciso, com a análise do número de cliques em links patrocinados nas páginas de músicos, grupos ou estilos musicais mais populares para determinar uma estratégia mais apurada para o anunciante ou patrocinador. Esse dado também é útil para o músico, pois ele consegue identificar através da interface destes serviços as afinidades e preferências daqueles que podem vir a ser um admirador e recomendador de seu trabalho. Como é de interesse do músico agregar à sua rede o máximo de admiradores ou público potencial possível, ele acaba tornando-se um agente bastante ativo na disseminação dessas redes, que quanto mais populares, mais eficazes enquanto interfaces de interatividade e como fonte de lucro para seus investidores.

Diante dessa lógica colaborativa, na qual presumidamente “todos ganham”, a pergunta é: quanto ganha e quem ganha mais. Se em meados de 2006, “fenômenos” de Myspacecomo Lilly Allen, Feist, Arcade Fire davam a impressão de que estava acontecendo uma grande revolução “indie” na web, posteriormente reconheceu-se que muitos destes ditos fenômenos eram frutos de estratégias de marketing já adequadas à web 2.0, estratégias estas que envolviam também outras vias de comunicação tradicionais e que não seriam viáveis sem um grande volume de investimento e o acesso privilegiado a um relatório de dados destas redes sociais.

Com as redes infladas de perfis nem sempre ativos, com os mecanismos de mediação restritos às listas e ranking dos hitsmais ouvidos, geralmente dominados por artistas do mainstream, a visibilidade na rede não vem tão facilmente.

O que dizer da distribuição gratuita das músicas em rede? E os serviços, como o do portal “Jamendo” (www.jamendo.com), que oferecem a divisão de uma porcentagem dos lucros com os anunciantes do portal entre os músicos que tiveram suas faixas baixadas sem custo pelos usuários? Seria um bom negócio? Nessa conta é preciso considerar quanto o portal vem angariando e quanto cada músico recebe nesta partilha. Para se ter idéia, o Jamendo possui hoje mais de trinta mil álbuns cadastradas.

A proposta do Jamendo ou de serviços afins é uma tentativa de legalizar o download ou streaming gratuito através da remuneração do artista de acordo com os termos do contrato proposto a este usuário, “totalmente legal” com diz a chamada. Não deixa de ser uma tentativa legítima, mas que acaba por orientar um hábito no usuário de não pagar por download musical, ou seja, a música em rede fruiria “livremente” para todos assim como em uma estação de rádio. Esse tipo de modelo bate de frente diretamente com da Apple e o seu iTunes, por exemplo.

Em teoria, plataformas como a do “Jamendo” seriam mais propícias para os músicos independentes que não possuem necessariamente um contrato assinado com um selo musical e teriam dificuldade de promoverem suas músicas nas principais lojas e distribuidoras da internet. A esperança seria a de uma instalação de um mercado independente paralelo, sustentado por músicos e seus seguidores, livres das instâncias tradicionais de mediação e na qual o músico ainda recebe alguma importância pela disponibilização de seu trabalho. Mas, o que acontece na prática? O artista consegue retirar daí uma boa quantia para a sua sustentabilidade profissional? Ele consegue com esses recursos otimizar a sua circulação com shows e apresentações sem sacrifícios como abrir mão do cachê?

O questionamento sobre o uso desses recursos de web 2.0 e novos modelos de negócios gira em torno dos reais benefícios angariados pelos artistas, uma vez as redes atualmente encontram-se muito populosas, porém com interações efetivas pouco densas, muito esparsas. Sem dúvida que a mudança do modelo de contrato antes oferecido pelas majorsfoi significativo e abriu um leque de possibilidades e realizações. Também não se questiona a importância da comunicação direta construída através das redes sociais e blogs. Mas, passados dez anos, não estariam as redes já sendo colonizadas por outras forças de mediação, tão fortes e quanto às majors?

Um exemplo relacionado especificamente à visibilidade: quando acessamos os portais de música, qual é a configuração da capa desses sites? Quem aparece em destaque? Ao entrar nas listas de artistas independentes, quais seriam os critérios de escolha de um álbum ou artista por um usuário quando, a capa do álbum? A ordem alfabética da lista dos artistas? A indicação de um amigo? A recomendação de um blog? Quais os critérios e os filtros que asseguram a presença na capa desses serviços ou os primeiros lugares nos seus rankings? O “jabá” não seria uma prática também presente na web?

Enfim, chegamos ao final desta reflexão com mais perguntas do que respostas. A pesquisa sobre o mercado da música em meio a tantos modelos de negócios em disputa pela fórmula mais eficiente para todos os personagens envolvidos talvez ainda esteja longe de acabar. Mas as questões apresentadas alimentarão o pensamento crítico dos artistas frente aos discursos dotados de entusiasmos excessivos com relação a estes processos. Nessa jornada musical de conflitos silenciosos, de recursos e esforços variados, quem realmente lucra com o engajamento dos músicos nas redes? Os artistas, os patrocinadores ou os portais de serviços e redes sociais? Afinal, alguém consegue medir o preço da visibilidade?

Por Trás dos Verbetes – Artigo para a Revista ENEAGRAMA USP

Por Trás dos Verbetes: um breve olhar sobre as interações e os

processos colaborativos no portal da Wikipédia Lusófona1

Patrícia Rocha

Resumo

A cada ano a internet surpreende o usuário com portais que oferecem novos formatos e

serviços que estimulam a interação e a troca de arquivos e informações em rede. Uma das

tecnologias mais influentes que emergiram nesta ambiência foi o formato wiki, tendo como

expoente maior a Wikipédia. Este trabalho visa apresentar os resultados da primeira etapa

de uma pesquisa exploratória realizada no portal da Wikipédia Lusófona, com o objetivo

de estabelecer as especificidades do formato wiki e como ele modularia as interações e as

mediações realizadas nesta inferface. A partir da observação de micro-redes formadas em

torno de alguns verbetes selecionados, questiona-se se é possível descobrir qual a natureza

das relações presentes neste ambiente e como elas interfeririam na constituição dos artigos.

Palavras-chave: Colaboração; Mediação; Interação; Wikipedia.

 

1. Introdução

A construção colaborativa de conhecimento mediado tecnicamente na internet tem sido abordada em vários estudos sociocomunicacionais recentes. O Formato Wiki, estrutura de software que permite a edição e a moderação de conteúdos online por mais de um usuário, configura-se como um dos destaques do cenário denominado como Web 2.03.

Somente a versão lusófona do portal Wikipédia4, recorte de estudo deste trabalho, já conta com mais de seiscentos mil5 artigos editados por seus usuários e, segundo as estatísticas do site Alexa6, ocupa a décima sétima colocação no ranking de acessos no Brasil. Talvez todos esses dados expliquem porque o formato wiki tem sido adotado por universidades, instituições de ensino e empresas7 como plataforma de construção de conhecimento compartilhado. O formato também tem sido modelo para outros softwares que trabalham com a mesma lógica colaborativa. Existem wikis que não estão vinculados ao projeto Wikimedia8 e estão disponíveis com licença livre para serem baixados e utilizados por qualquer usuário, como o Foswiki9 e o Dokuwiki10.

A proliferação destes projetos chama a atenção para algumas questões que motivaram a realização deste trabalho. Quais seriam as características e especificidades deste formato que estariam relacionados ao sucesso do mesmo? Como se configuram as interações sociais no processo coletivo de construção de conteúdo na Wikipédia? De que maneira o formato interferiria na modulação dessas interações?

Tomando como referencial os estudos sobre os processos de colaboração na internet e sobre redes sociais, o presente artigo tem como objetivo principal levantar aspectos qualitativos que norteariam apontamentos e possíveis caminhos para as questões levantadas acima. Para tal foram selecionados dois verbetes para serem acompanhados durante o período de uma semana através de suas respectivas páginas de discussão. Os critérios para a seleção dos verbetes e a descrição dos procedimentos metodológicos para essa abordagem serão mais detalhados no quarto item deste artigo.

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