escalando estrelas

o mês de outubro foi um dos meses mais quentes dos últimos séculos, desde quando começaram a contar. toda essa efervescência foi sentida dos poros à alma. ficar muito quente faz a fome viajar para longe e as pessoas se tornarem arredias, nervosas, intocáveis. a pele arde e os olhos, insones, também.todo movimento se torna lento, assim como o pensamento. porque precisávamos sentir tudo, porque precisávamos desacelerar e ver o quanto estávamos agitados e indiferentes uns aos outros, às águas, às matas.

nos últimos dias de outubro choveu. como quem dá um recado, sejam “bons meninos” que a água desce, o verde cresce e o céu volta a ser azul límpido sem ser sinônimo de tortura. o vento passa e o sono agradece. depois que choveu voltamos a dormir e a amar. amar como se o outro fosse a última tangerina do deserto, geladinha. a fome era de quem tinha atravessado o canal da mancha, ida e volta. a criatividade fluiu como a enxurrada que carregou carros rio abaixo. a chuva foi um tapa de luvas: “abram os olhos”.

no último dia de outubro, estiquei a canga no quintal para sentir e agradecer o vento. escalar as estrelas que pareciam ao alcance naquele céu azul marinho profundo e límpido, com a lua meio-queijo de lamparina. a constelação de órion que observo desde menina estava logo ao lado, no seu “quadrado”. naquela noite eu nadei no céu. imaginei estradas invisíveis que os aviões cortavam. ouvi o barulho encanado da Cristiano Machado. o apito do trem. senti a brisa, vinda do além, até a coluna doer no chão duro. me despedi do cenário seguro com pesar, passando bem. dormir diante de tanta beleza parece até ingratidão. troquei a certeza do chão pelo colchão, olhando de olhos fechados, façanha, o céu dos sonhos, com paixão.

esca

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